Fuga do Melara: Renato Dornelles fala sobre os 30 anos do caso Plaza
Em conversa com Coletiva.net, o jornalista contou sobre como cobrir o maior motim do Estado

Nesta segunda-feira, 8, completam-se 30 anos do caso Plaza, considerado o maior motim já ocorrido no sistema penitenciário da história do Rio Grande do Sul. Para recordar o caso, ocorrido em 1994, a equipe de reportagem de Coletiva.net conversou com o jornalista e escritor Renato Dornelles, que trabalhou na cobertura enquanto repórter do jornal Zero Hora.
Conforme Renato, trabalhar na cobertura do motim, para a maioria dos jornalistas, foi ou seria algo extremamente importante na carreira, e para ele não foi diferente. "Lógico que não posso dizer que foi gratificante, pois trata-se de um fato que envolveu mortes e que deixou feridos graves, além do pânico gerado. Mas como foi um acontecimento independente de nossa vontade, participar desse momento foi importante", contou.
Renato recordou que, no momento em que chegou a informação de que estava ocorrendo um motim no Hospital Penitenciário, junto ao Presídio Central, ele estava trabalhando no setor de pesquisas de Zero Hora, onde estava lotado havia meses. "A informação chegou via colegas e, logo depois, a rádio entrou ao vivo no local", disse.
Segundo o jornalista, o que chamou atenção foi a participação e o protagonismo no motim da Falange Gaúcha - principal facção do Estado na época. Renato investigava o grupo desde um evento semelhante ocorrido em 1987, sendo a primeira tentativa de organizar o crime no Rio Grande do Sul via facção.
As pesquisas de Renato resultaram no livro 'Falange Gaúcha - o Presídio Central e a História do Crime Organizado no RS', lançado em 2008. A obra inspirou o documentário 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil', dirigido por Tatiana Sager e codirigido por Renato, com cenas do motim. A produção está disponível no canal Falange TV no YouTube, em comemoração aos 30 anos.
Para Renato, a cobertura policial ou por grandes mudanças desde o motim, pois ficou mais perigosa. "Lembro-me que naquela época era como se nós, os jornalistas, tivéssemos uma espécie de imunidade contra a violência. Íamos a diversos lugares que hoje são inviáveis", afirmou.
Renato considera o marco dos 30 anos como "extremamente importante", pois relembrar um fato marcante, ainda que negativo, é necessário para que haja uma reflexão sobre os erros e as falhas que possibilitaram aqueles acontecimentos. "Principalmente em se tratando de sistema penitenciário, algo que já nasceu torto no Brasil há 200 anos", finalizou.
Relembre o caso:
Em 8 de julho de 1994, 10 dos mais perigosos criminosos do Rio Grande do Sul, integrantes da Falange Gaúcha, davam sequência a um motim iniciado na véspera, no Hospital Penitenciário, em prédio anexo ao Presídio Central. Tinham em seu poder, sob ameaça de armas, 24 reféns.
Dois dos criminosos, por exigência dos demais, foram buscados na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas e levados para lá durante a rebelião: Dilonei Francisco Melara e Celestino Linn. À noite, o clima de apreensão sai do presídio e vai para as ruas de Porto Alegre. Depois de 24 horas de negociação, os 10 presos deixaram a prisão em três carros, com nove reféns.
Uma perseguição policial, que foi contra as negociações, resultou em tiroteios, acidentes e na morte de quatro criminosos e um policial civil. O auge da ofensiva foi a invasão do Plaza São Rafael, o principal hotel de Porto Alegre na época, por um carro onde estavam Melara, Linn, Fernandinho e três reféns.
Após derrubar a porta de vidro do hotel, o veículo foi estacionado no saguão do prédio. Ferido com o impacto, Linn é capturado pelos policiais e com isso uma refém foi resgatada. Melara e Fernandinho se abrigaram em uma sala com dois reféns mais uma funcionária do Plaza. Foram 15 horas de negociações até que a dupla se entregasse.
Para saber mais sobre como foram o motim e a experiência de Renato nessa cobertura, confira a entrevista que o comunicador concedeu ao programa 'Memórias da Comunicação', de Coletiva.tv. O episódio pode ser assistido na íntegra logo abaixo: