O eleitor tende a destituir um governo que não entrega

Por Elis Rann

A polarização e a radicalização política têm sido temas recorrentes no debate público, mas, na prática, os grupos mais radicais - lulistas e bolsonaristas - representam, em média, apenas 12% da população brasileira.

A maioria dos eleitores demonstra maior preocupação com a falta de uma agenda clara do governo federal, que tem enfrentado dificuldades para ser reconhecido por suas entregas e realizações. Esse cenário tem contribuído para uma avaliação negativa do Presidente Lula, afetando sua viabilidade para uma possível reeleição.

Pesquisas realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião indicam uma crescente insatisfação da população com os rumos da economia, especialmente devido aos impactos da "inflação não oficial". O aumento do custo de vida e a consequente redução do poder de compra dos brasileiros reforçam a percepção de instabilidade econômica, tornando esse um fator central para a desaprovação do atual governo, que está em 57%. A análise segmentada demonstra que o índice de desaprovação é maior no Sudeste e no Sul do país e menor no Nordeste. Quando se analisa a faixa etária, a desaprovação aumenta entre os mais jovens e diminui entre os mais velhos.

A tendência de continuidade de um presidente está diretamente relacionada à teoria do voto econômico, que sustenta que os eleitores baseiam suas escolhas na situação econômica do país. O princípio é simples: quando a economia está em boa fase, o eleitor tende a conceder um voto de confiança ao governo vigente, caracterizado pelo voto retrospectivo.

Por outro lado, se a economia enfrenta dificuldades, cresce a preferência pelo voto de mudança, favorecendo a oposição e o voto prospectivo. Nesse cenário, o eleitor é estimulado a apoiar a candidatura que apresenta a melhor proposta para a recuperação econômica, confiando na capacidade do candidato de gerir o crescimento do Brasil.

Nesse contexto, quanto mais o debate se concentrar em uma agenda propositiva voltada para temas como economia, saúde, educação, desigualdade social e segurança, menor será a influência da polarização política na escolha do eleitor. Em contrapartida, à medida em que a disputa se aprofunda em questões de valores sociais e morais, especialmente no campo da pauta identitária, cresce a tendência de polarização entre os eleitores.

Autor
Elis Rann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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