Iniciando a reconexão entre professores e alunos...

Por Elis Rann

O inicio do calendário escolar começa com uma grande e histórica novidade: a proibição do uso de celulares e outros equipamentos eletrônicos em sala de aula, seja ela pública ou privada. A lei 15.100 de 2025 se propõe a proteger o bem-estar e o desenvolvimento físico e mental dos alunos e a melhorar o ambiente escolar, reconectando professores e estudantes. Entretanto, quando for necessária a utilização de dispositivos eletrônicos, a escola permitirá o uso com a devida orientação.

Uma parcela dos pais está descontente, alegando que não terá o contato com o filho durante a aula ou que o filho gosta de ficar no celular durante o recreio. A lei vem com este objetivo, de fazer com que o momento em sala de aula seja reservado para o conhecimento e a socialização e que os recreios sejam momentos de integração e recreação.

Ao longo da última década, as pesquisas realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião identificaram o quanto o celular estava prejudicando a relação entre professores e alunos, diminuindo a legitimidade dos professores e aumentando a impaciência e a indisciplina dos alunos.

Se pensarmos no professor em um contexto de sala de aula onde cada aluno tem um celular na mão, perguntando algo para o "Google" ou para a inteligência artificial, podemos entender o tamanho da encrenca! O professor gasta mais tempo explicando e disputando seus saberes com as informações fragmentadas jogadas pelos alunos do que ensinando o conteúdo determinado. De outro lado, tem os alunos que estão conversando por aplicativo de mensagem, jogando ou até fazendo vídeos e fotos para postar nas redes sociais durante o período de aula.

No contexto de celular em sala de aula, a "cola" tinha se tornado algo prático pois podia estar em blocos digitais, ser trocada por WhatsApp ou até mesmo no relógio inteligente de pulso, que é quase como um computador.

Muitos professores foram atropelados pela pandemia, tendo que retornar à sala de aula em um cenário caótico causado pelo grande período de aulas remotas: estudantes com déficit de conhecimento, viciados em celulares, sem paciência e questionando os professores que tinham que ouvir que davam aulas analógicas, sem conexão com este "novo tipo de aluno".

Os estragos causados pela "tempestade perfeita" foram sendo monitorados por indicadores como o PISA - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. A análise dos resultados de 2022 indicou que alunos que aram mais de cinco horas diárias conectados obtiveram, em média, 49 pontos a menos em matemática do que aqueles que utilizaram os dispositivos por até uma hora. Essas pesquisas apontam os prejuízos causados pelo uso excessivo de telas no desempenho escolar e no desenvolvimento social de crianças e adolescentes e os riscos para saúde física, tendo em vista o aumento do sedentarismo e da obesidade infantil.

O primeiro o foi dado, uma lei que coloca regras para uso do celular dentro das escolas. O segundo o deve ser dentro das casas, com orientação e supervisão do uso e do tempo de tela.

Autor
Elis Rann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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