In forma (07/05)
Por Marino Boeira

O NOVO E O VELHO
O filósofo italiano Antonio Gramsci (1891/ 1937) fez uma frase que muitos já usaram para caracterizar vários períodos históricos - "A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem " - mas que parece ter sido dita pensando na realidade de hoje no Brasil.
O mais interessante entre esses sintomas é o esforço para apagar as diferenças entre posições políticas opostas. Nunca como no Brasil de hoje, noções clássicas como Esquerda e Direita, Democracia e Ditadura, aparecem misturadas nos discursos de políticos e nos comentários da mídia.
Na visão de muitos, o Brasil vive um Estado Democrático de Direito, ameaçado diariamente por elementos que se escondem dentro de alguns partidos tradicionais e que tentam retomar um período em que o Fascismo teria dominado o Brasil.
O tal Estado Democrático de Direito seria representado pelo atual governo, mesmo que o povo brasileiro viva numa imensa miséria, mesmo com o atraso científico, tecnológico e cultural do país e mesmo com uma economia rentista e dependente que impede qualquer progresso econômico.
O fascismo é representado pelo governo anterior, que foi derrotado mas que ainda vive entre os saudosos daquela época. Como não se pode duvidar da democracia em que vivemos, não se pode negar a existência do fascismo do ado, ainda que ele não encontre acolhida nos fatos ados.
Dentro dessa dicotomia as pessoas não percebem que os dois períodos não são tão opostos assim. Lembrando Georg Lukács (1885/1971) que disse que o fim da política é a cultura, podemos nos valer de um outro grande intelectual, Jean Paul Sartre (1905/1980), com sua peça teatral O Diabo e o Bom Deus em que mostra que não existem grandes diferenças entre o bem e o mal.
Considerando que o bem é o governo do Lula e o mal o governo do Bolsonaro, vamos ver que as diferenças entre os dois são mínimas e que a persistência deles como opções para a escolha dos brasileiros é mais um sinal de que vivemos tempos em que os sintomas mórbidos estão presentes em toda a vida política.
É preciso lutar pelo novo (o socialismo) e ajudar a matar o velho (o capitalismo em todas suas formas). Só assim teremos uma meta para superar o ime político e social em que vivemos.