In forma (02/04)

Por Marino Boeira

LEMBRANDO SARAMAGO

Num dia de junho do ano 2000, José Saramago (1922/2010) estava no palco do antigo Teatro da OSPA, em Porto Alegre, para o lançamento do seu livro A Caverna e eu era mais um entre as centenas de pessoas que foram lá para ouvir a leitura de algumas páginas do seu livro, feita de forma maravilhosa por Mirna Spritzer e depois apanhar o autógrafo do autor no livro.

Na ocasião Saramago, já era um dos romancistas mais famosos do mundo e se tornara o primeiro escritor em língua portuguesa a ganhar o Nobel de Literatura em 1998.

Não é sobre esse evento que vou escrever, mas sobre algumas semelhanças entre as histórias de dois de seus melhores livros e a realidade brasileira.

Estou me referindo a Ensaio Sobre a Cegueira, de 1995 e Ensaios Sobre a Lucidez, de 2004.

No primeiro, toda a população de uma cidade é atingida aos poucos por uma cegueira branca. Só uma mulher é poupada dessa epidemia. Caberá a ela então guiar as demais pessoas no meio dessa cegueira geral.

No segundo, nas eleições de um país, subitamente, sem que isso houvesse sido combinado previamente, o voto em branco supera os votos dados aos candidatos da situação e da oposição.

Nos dois livros, trazendo os eventos para os dias de hoje no Brasil, a analogia parece clara.

No primeiro (Ensaio sobre a Cegueira), em meio da cegueira política da maioria é preciso que alguém enxergue o que está acontecendo e aponte o caminho certo para a maioria dos que estão cegos.

No segundo (Ensaios de Lucidez), Saramago aponta o caminho a ser seguido: a negativa de aceitar as escolhas que são oferecidas ao povo.

No Brasil de hoje, só não estão cegos os que enxergam que a proposição da classe dominante do Brasil, a grande burguesia aliada ao imperialismo, é que se escolha o Presidente entre dois iguais, Lula e Bolsonaro (ou alguém em seu nome).

É preciso ter lucidez para se negar a participar desse jogo e escolher outro caminho: o da Revolução Brasileira e votar nulo em 2026.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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