Eu nunca conheci o Magro Lima. E ainda que eu acredite que o luto, e não o texto, seja a melhor forma de respeitar aqueles que se vão, me peguei escrevendo novamente neste final de semana depois de receber a fatídica notícia de sua agem precoce, pelo rádio.

O rádio. Sempre ele, o rádio.

Sozinho em Dublin, na Irlanda, onde morei por quase sete anos até setembro de 2020, foi ele o meu grande amigo. Foi escutando rádio e a base de muita Guinness que ri diversas vezes do Magro e de suas tiradas únicas, quase sempre, enquanto coadjuvante de calorosos bate-papos. Eram sacadas quase sempre sutis, no rebote de uma fala, baixinho lá atrás, na ambiência do microfone, não alto à frente dele. O Magro - me parecia - não atirava à toa. Era sniper. De básico, acho que nunca teve nada.

Pelo que sei, tinha fama de nerd. E, claro, de inteligente. Não foi uma nem duas vezes que ouvi de algum de seus competentes colegas a referência clara de que tratava-se de uma pessoa de inteligência acima da média - o que até acho um pouco injusto, visto a média que nos deparamos diariamente por aí. 

E que coisa boa ver alguém inteligente assim usando essa sua destacada inteligência para fazer algo de bom, no caso, fazer amigos e gerar conteúdo. E como tinha amigos o Magro. Sobre conteúdo, chego a duvidar que o  talentoso colega Magro Lima alguma vez tenha se autodenominado 'produtor de conteúdo' uma alcunha cada vez mais empregada para quem tem um smartphone e nenhum conteúdo.

Eu nunca conheci o Magro Lima. Nunca cruzei com ele. Nenhuma vez. Nem uma vez no Oeste. E menos ainda terei os amigos que ele teve, e tem. Com sorte, talvez um dia, quem sabe, vamos sentar, tomar uma cerveja bem gelada e falar de Star Wars. Mas isso não é certo. Por que pra onde ele foi não é bem assim de entrar. Morrer todos vamos. Agora, chegar lá e ser recebido de braços abertos pelo cara como o Magro Lima certamente está sendo, não é pra qualquer um.  

Vai com Deus, Magro. Ele certamente tem bons livros e filmes pra te indicar.

José Pedro Jobim é jornalista.