Tem de acabar, p*rra!
Por Iraguassu Farias, por Coletiva.net
Não concordo em nada, mas nada mesmo, com o que pensa e faz o sujeito que ocupa atualmente a presidência do País, mas roubo dele, por proximidade, expressão usada recentemente. Só para introduzir o assunto.
Certa feita, estando num banco federal, recebemos pedido da área do produto, para elaborarmos uma campanha para Fundo de Investimento. Briefing: governo acaba de autorizar aplicações ao portador, sem identificação do investidor e, portanto, sem retenção de imposto de renda na fonte. Mas todos os bancos podem operar da mesma forma (aliás, as regras são iguais para todos neste segmento, então, diferenciar-se é muito difícil). E lá estava estampada na peça básica, ao fundo, uma espécie de leão da Metro, com a chamada "venha se esconder do Leão? Aplique aqui, blá, blá, blá". Boa. Muito boa. Mas com um detalhe: o dono do banco era exatamente o Governo, o próprio Leão.
Não lembro se deu demissão, mas lembro da fúria do pessoal do Planalto.
Tudo isto para dizer do inoportuno de algumas mensagens. Errar, todos erram. Mas de que cabeça sai, por exemplo, a ideia do Banco Santander vender, logo no início da pandemia no Brasil, seguro de vida para médicos?
Pode até vender. Afinal, a crise gera a oportunidade. Mas fazer isto despejando muito dinheiro no horário nobre da TV, não parece ter sido a melhor estratégia. No mínimo, falta de sensibilidade. Mais ou menos com agente funerário berrando em porta de UTI de Covid-19.
Há muitos casos como estes e é incrível imaginar que profissionais elaborem estratégias e motes, produzam materiais, aprovem com seus C/alguma coisa e coloquem no ar, sem que nessa cadeia alguém diga: "Opa! Vamos pensar melhor?"
Pois não é que a Bombril relança uma tal esponja de aço como nome de Krespinha? A notícia na web estava devidamente identificada e assinada, portanto, pouco provável tratar-se de uma inverdade. Mesmo porque, ao fim da matéria, há a menção "procurada por Veja, a empresa não se manifestou, mas retirou do site o produto". Supostamente, a matéria e a indicação de estar a hashtag #BombrilRacista entre as mais comentadas no Twitter, tenha sido noticiado naquela revista. Alguém mais arguto pesquisa e descobre que o produto original, com este nome, foi lançado em 1952, e - pasmem - lá havia na embalagem uma mulher afrodescendente com uma caricatura de cabelos crespos.
Como disse, errar é possível. Mas, sabendo-se do processo de aprovação, mesmo no relançamento de um produto, como pode, em pleno século 21, depois de Minneapolis, Paris, Londres e de todas as eatas sobre racismo, uma empresa, seja de que porte for, de onde tenha sede (pode ser até do sul americano), coloca no mercado um produto com este nome?
Não tem explicação. Dá até pra imaginar sabotagem industrial. Ou um empregado (e mais toda a cadeia de aprovação) revoltado com a empresa. Certamente. neste ou em tempos futuros, não há mais espaço para este tipo de coisa. E não adianta um ministro dizer que somos um povo só e que é mimimi respeitar estas diferenças.
O mercado cobrará seu preço. Espero.
E TEM DE ACABAR ESTA P*RRA!
Iraguassu Farias é diretor comercial de Coletiva.net.