Que homem, senhoras e senhores!
Por Sabrina Thomazi, para Coletiva.net

Para além da coragem de expor-se, encanta-me a capacidade de comunicar-se com clareza e segurança do senhor governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Refiro-me, por óbvio, às declarações dele em entrevista recente a Pedro Bial, quando assumiu ser gay.
Depois de uma onda de congratulações pela revelação do governador gaúcho, deparei-me também com uma série de mensagens que diminuem seu gesto. Ok. Tem gente que não a calar-se. Manifestações que vem como se uma "orientação sexual" - termo usado por Leite - só fosse legítima se estivesse colocada em determinado espectro da política partidária. Apontam também seu aspecto eleitoreiro. Que seja, já que creio que parte da motivação desta fala, neste momento, responde, sim, a ataques já feitos de olho nas eleições e antecipa os tantos que ainda estariam por vir, caso a questão se mantivesse em zona nebulosa.
Mas tudo isso já vem sendo amplamente reconhecido.
O que quero realmente enaltecer, tema que tem meu apreço e meu olhar, é a comunicação. Em vários níveis.
Estamos convivendo com parâmetros tão baixos, que me encanta alguém aceitar uma pergunta, por mais incômoda que seja, e se dispor a elaborar uma resposta. Sempre acreditei que "perguntar não ofende" e por isso talvez me sinta tão frustrada com esse tempo de "cala boca" e uma série de ofensas que tentam constranger quem ousa questionar. E nem me refiro a eventuais perguntas desrespeitosas, que também considero uma distorção, mas, simplesmente, perguntas. A pergunta a gente não escolhe. A resposta, sim.
Então, muitos podem achar que Eduardo Leite não fez nada demais. Fez. Começando por acolher uma pergunta incômoda.
E a resposta, senhoras e senhores?
Outro motivo de iração. Elaborada. Não na hora. Pensada. Construída. Ou vocês acham que quanto mais irracional melhor? Não. Comunicação é uma habilidade importante. Cada vez mais. Merece ser sentida, pensada e exercitada. Que bom estar diante de alguém que fala em "processo", que reconhece a própria jornada e que usa os recursos que tem para entregar uma resposta clara e serena. Alguém que não pressupõe que o interlocutor adivinha o que se a dentro de si, seja em caráter emocional ou intelectual, e por isso se esmera em descrever. A mim, isso representa o valor que se dá ao outro. Significa compreender que o outro não é parte de mim e, portanto, posso e devo fazer um esforço consciente de alcançá-lo.
Se o governador Eduardo Leite faz isso com intenção de ganhar votos ali na frente, nada de ilegítimo. Terá os votos daqueles que compreenderem que sua conduta como pessoa, como gestor, como político, ou em qualquer outra dimensão que atue, os representa. Da mesma forma que perderá os votos daqueles que, diante de suas convicções, públicas ou particulares, não enxergarem nele uma figura capaz de levar adiante suas demandas como cidadão ou cidadã. O que importa é que transparência nos dá mais chance de escolha. E de escolhas mais maduras.
Sugiro que não façam o curto raciocínio de que com este texto declaro meu voto. O que declaro é minha iração pela atitude expressa. O que desejo é que desenvolvamos, cada vez mais, a capacidade de elogiar o que há de elogiável naqueles que não nos são iguais. Que consigamos nos relacionar com algo ou alguém para além do nosso espelho. Acredite, isso também se aprende. E abrir-se para o aprendizado, preparar-se para os desafios, também é irável.
Que homem, senhoras e senhores!
Sabrina Thomazi é jornalista com MBA em Comunicação Corporativa, graduanda de Psicologia, palestrante e mentora de comunicação e desenvolvimento, idealizadora do podcast Âncora de Carreira.