Produção publicitária gaúcha - Parte V
Por Enio Lindenbaum, para Coletiva.net
Hoje, afastado do dia a dia da profissão, não me atreveria a emitir opinião sobre o presente ou futuro da produção publicitária, especialmente a gaúcha. A memória, muito afetiva e consequente, só me ajuda no resgate do ado, esperando um futuro melhor.
O Rio Grande do Sul continua sendo um celeiro de talentos. Somos um estado conectado. Talvez o estímulo à universalidade possa, sim, nos ajudar e muito no desenvolvimento de uma cadeia produtiva de conteúdos, aproveitando uma maré mundial neste sentido.
Deve-se reconhecer ter sido um setor que não se organizou da melhor maneira para poder, coletivamente, solucionar ou não deixar tensionar as relações. Isso nos fez mais atrasados. Não identifico uma ou mais liderança setorial que, em grupo, poderia ter amadurecido melhor o segmento.
Lembro quando ainda no governo Simon sugeri a alocação dos galpões do cais do porto, para a construção de estúdios e centro de formação profissional na área.
A luz natural de Porto Alegre é considerada ótima para cinema. Temos uma variedade de cenários e de tipos humanos, enfim, podíamos já ter aproveitado aquela oportunidade.
Experiências no resto do Brasil eram uma tendência normal, aproveitando uma origem mais aventureira e nem sempre empresarial. São Paulo não só organizou como separou setores: a produção publicitária, a política, a de conteúdo, dos locadores de equipamentos e de elenco. E assim foram se organizando e direcionando a conduta e o aprimoramento profissional.
Aqui, a estruturação de cursos universitários específicos foi levando para a formalidade com aquele ar rebelde, aventureiro, tal qual foi sendo também formado o cinema brasileiro, e, com isso, a construção de competentes profissionais e grandes coordenadoras de produção. Tenho que nomear Nora Carús, Nora Goulart, Rosane Severo, Hamilton Mossmann, Anete Bittencourt, Kiko Cunha e tantos outros.
Vários empreendedores estiveram neste ramo e geraram trabalho e formação para muita gente. Boa parte deles eram artistas, como o Werner Schunemann, por exemplo. Como não citar Jorge Furtado, Roberto Grilo, Edgar Ferreti, turma que acompanhava o Joubert Rolão, a Nyaya Nunes, estes mais "empresariais".
A 0512 juntou Joubert e o Neco Schertel, com a Cristina Pilar e o Sérgio Amon, todos partindo para uma operação paulista organizada. Muita dificuldade, pouca união, agências que se aproveitavam desta situação para nos deixar caudatários da indústria.
Hoje, pode até soar ingênua a maneira como conduzíamos e como éramos cooptados pela vaidade numa época em que tínhamos anunciantes locais que sustentavam o mercado e as agências conduzidas em sua maioria por pessoas com perfil parecido conosco.
Paulo Tiarajú, Roberto Pintaúde, Paulinho Boanova e tantos outros que tinham um certo romance na profissão, diferentemente dos irmãos Paim, Ney Silveira, Alfredo Fedrizzi e a turma da Escala.
Difícil é criar uma competitividade produtiva coletiva. Temos uma das melhores profissionais de pesquisa do Brasil, a Dilza de Santi e é sempre um prazer desenvolver trabalhos com ela. Planejadores como foi o nosso palestrante Dado Schneider, o Kroeff, o Cama. Bah, quanto talento? Receber um briefing do Sérgio Gonzáles era por demais prazeroso. Conviver com o Heitor Kramer, com o Vicente Soares...muita saudade.
No interior, Novo Hamburgo era um centro produtor com a Starsax, a Maria Helena da Target, o Mauro e o Norton Flores da Blackenhein com a Dakota de Nova Petrópolis. A BSA de Caxias do Sul, com a Colombo, Enxuta, Eberle, Festa da Uva e tantos outros.
Muito pouco ou nenhuma produção internacional. A origem na década de 50 com filmes de Teixeirinha e cia levaram a um grupo pioneiro no Super 8, que discutia a sobrevivência da geração jovem.
Preciso prestar homenagem a Cícero Aragon e Paulo Nascimento que enxergaram nichos, investiram e se consolidaram gerando trabalho e formação a tantos. A memória segue sendo revisitada em busca de novas e boas lembranças.
Voltaremos...
Enio Lindenbaum é publicitário.