O que Simone Biles tem a nos dizer

Por Luciana Munaretti, para Coletiva.net

Não sei você, mas nestes dias tenho trabalhado com um olho no computador e outro na TV, acompanhando essa Olimpíada que, além da pandemia, vai entrar para história como a primeira em que escancarou os problemas de saúde mental dos atletas. Quem trouxe o assunto à tona foi a ginasta americana Simone Biles - que desistiu das principais provas - para se preservar. Se não bastasse toda a pressão natural do esporte, com apenas 24 anos certamente ela está vulnerável a tudo o que lê no celular. Consigo imaginar as horas de descanso na Vila Olímpica sendo ocupadas por espiadas nas redes sociais.

Toda a geração de Biles, os mais novos, os mais velhos, e até esta "cringe" que vos fala (risos) transformaram o telefone celular numa extensão do seu corpo. Sem aqui demonizar esse incrível instrumento de comunicação, ferramenta de trabalho, de o à cultura e entretenimento. Mas precisamos olhar para o lado negativo, desde as horas perdidas na telinha, até o extremo, que é a cultura do cancelamento em que vivemos. Com gatilhos para a ansiedade e até o pior: o julgamento imediato sem chance de defesa.

E o que Ginástica Olímpica têm a ver com Comunicação? Ou Comunicação Corporativa, área à qual me dedico? Podemos começar por responsabilidade. Responsabilidade sobre o conteúdo que vamos oferecer nas redes da sua marca ou dos seus clientes, e a quais influenciadores queremos nos alinhar. Por isso, aqui estão algumas reflexões que eu espero trazer ao debate dentro do nosso mercado.

Micro e macro influenciadores têm aos montes. Cardápios são oferecidos de acordo com a dancinha da moda, a beleza, o meme do momento. Mas vá um pouco mais fundo e avalie se essa pessoa tem a ver com a jornada da sua marca. Está cansativo ver fotos diariamente de influenciadores aglomerando, mesmo com o cenário sombrio de Covid-19. Ou, numa semana chorando a morte do ator famoso pela doença, e na outra postando um click sem máscara, abraçadinho nos amigos. Noção e responsabilidade am longe. Parafraseando a brilhante Ilana Kaplan: "É de bom tom? Não, não é de bom tom".

Mas voltando à Ginástica Olímpica, no caso de Biles, algumas das empresas que a patrocinam são Visa, Athleta e Uber Eats. Mesmo com as desistências, reforçaram o apoio à atleta e divulgaram statements com bastante delicadeza para falar sobre saúde mental. Então, se o título deste texto levanta "o que a ginasta americana tem a nos dizer", vale botar a mão na consciência e revisar todas nossas estratégias, para que a Comunicação não seja um instrumento de angústia, tristeza, cancelamentos; mas de jornadas duradouras e que contribuam para nossa evolução como sociedade. 

E aqui fica um último toque para os detentores das verbas de marketing e empresários brasileiros: não adianta só torcer e comemorar as medalhas da nossa Rebeca Andrade a cada quatro (neste caso, cinco) anos. Dá tempo de começar a patrociná-la para as próximas Olimpíadas - também outras atletas, outros times, outras modalidades. Quase metade da delegação brasileira não tem nenhum patrocínio privado. Às Rebecas, Mayras, Fernandos, Tiagos, desejo uma chuva de contratos.

Luciana Munaretti é consultora de Comunicação, gaúcha, radicada em São Paulo há 20 anos.

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