Não adianta ler esse artigo
Por Luan Pires, para Coletiva.net

Este artigo vai ser um pouco diferente. Desde que comecei essa série sobre diversidade e comunicação, várias pessoas entraram em contato comigo com a fala de que "nunca tinham visto determinado assunto por esse ângulo". E isso não é demérito. É por isso que falamos no primeiro artigo sobre a ilusão da diversidade de fachada, depois falamos sobre a necessidade de escutar de fato o que essas pessoas falam e por último sobre como a discussão precisa ser mais profunda e ligada ao lado humano. Todos esses assuntos falam de fortalecer a ligação entre minorias, entre mercado e minorias e entre mercado e mercado. O outro sempre faz parte da construção.
Este penso vai ao encontro de alguns dados de uma pesquisa feita pela Opinion Box, que ressalta que 68% das pessoas LGBTQIAPN+ se mostraram orgulhosas da própria identidade e 48% chegaram a dizer que se sentem muito orgulhosas de serem. Mas o medo e a apreensão existem: 67% dos entrevistados disseram que evitam andar de mãos dadas com pessoas do mesmo sexo, assim como nos 61% que evitam frequentar certos lugares em razão de agressões.
As agressões às vezes não são diretas. Pensa nisso: 74% dos LGBTQIAPN+ preferem comprar em empresas que apoiam a diversidade. Entre o público hétero e cisgênero, são 43%. Ou seja, o fato de uma empresa ser receptiva a um grupo que diretamente você não faz parte é indiferente para tantos. "Se uma empresa não aceita outras pessoas, me aceitando, tá tudo bem." Talvez esse pensamento não venha à consciência, mas ainda existe gente que não se importa se alguém não pode andar nas ruas de mãos dadas sem se sentir inseguro, que viveu uma vida inteira vendo sua identidade apagada pela sociedade e que precisa defender toda vez um único filme, série ou cena de novela que fale deles com um pouco mais de empatia.
O inferno são os outros. Mas, somos nós. Não adianta eu vir aqui e falar sobre todos os dados, fatos e contextos se o outro não está disponível a encarar que faz parte de uma construção preconceituosa e que precisa reaprender, escutar e sair da zona de conforto. Por isso falamos de "orgulho". Não é uma vantagem. Minorias não querem vantagem. Querem equidade. E, mais do que isso, lutam dia após dia para ter orgulho de serem quem são quando a sociedade, ainda que às vezes indiretamente, manda eles não terem.
Na mesma pesquisa, o orgulho em ser LGBTQIAPN+ é mostrado por 61% das pessoas com 50 anos ou mais, 67% das que têm entre 30 e 49 anos, mas chega a 71% entre a população mais jovem, de 16 a 29 anos.
Minorias não lutam por elas. Raramente vão vivenciar uma mudança de paradigma grande. Minorias lutam pelo futuro de outros que virão. Para que esses possam viver o que eles não puderam.
É pensar no outro. Precisamos. Simples assim. Não é só ler um artigo. É agir.
Essa é a mensagem. Objetiva, mas com o carinho de quem está do lado de quem está tentando. E vocês?
Luan Pires é jornalista e executivo de Planejamento Estratégico e Comportamento.