Na guerra de versões, é preciso responsabilidade e serenidade

Por Lucas Braz, para Coletiva.net

A saída de Sérgio Moro do governo Bolsonaro abriu um novo capítulo na história das guerras de versões. Assim que o ex-juiz federal anunciou em entrevista coletiva a sua intenção de deixar o Ministério da Justiça, as redes sociais foram inundadas pela pauta da demissão, e, pela primeira vez desde o início da pandemia, a Covid-19 virou coadjuvante. De memes a teorias do caos, surgiram as mais diversas opiniões, evidenciando toda a criatividade do brasileiro em quarentena.

Como costumeiramente tem ocorrido nos últimos tempos, a polarização dominou o cenário. Formou-se um Grenal entre "moristas" e "bolsonaristas", diminuindo a profundidade do debate. A oposição, vendo pela janela a briga na casa do vizinho, tratou de jogar lenha na fogueira pra aquecer as discussões. Mas afinal, para aqueles que, de alguma forma, eram simpáticos ao governo, seja por falta de opção ou por convicção, como se posicionar? Como defender um lado sem acusar o outro? Ou ideal seria realmente escolher um lado no campo virtual e partir pro ataque? Penso que nesse estágio, a omissão é prejudicial. O momento exige posicionamento.

Analisando tuítes e posts de Facebook e Instagram, foi possível ver que brotavam comentários em defesa do presidente ou do ex-ministro, porém, os comentários em favor de Bolsonaro eram mais calorosos e ionais, partindo de políticos, formadores de opinião e apoiadores. Já as opiniões em favor de Moro vinham também de políticos e formadores de opinião, mas um número menor de usuários independentes ousou sair em defesa do símbolo da Lava Jato.

É possível que a diferença na balança da origem dos comentários seja em razão do presidente ser um político por formação e já possuir uma militância ativa nas redes. Moro, apesar de compor a lista das 50 personalidade mais influentes da década, de acordo com o Financial Times, não possui esse time de usuários que atuam energicamente nas redes. Talvez a maior parte do time de "moristas" seja formado por uma sociedade silenciosa.

Um ensaio quantitativo poderia apontar uma pequena vantagem para os "bolsonaristas" neste primeiro momento, onde aqueles que buscam informações encontram um maior número de argumentos. Veja bem, eu falei em quantidade, não qualidade. Esses elementos reforçam a importância do posicionamento ágil em momentos críticos. Na guerra de versões, a opinião é fundamental, mas é imprescindível que seja formada e disseminada com responsabilidade e serenidade.

Lucas Braz é jornalista.

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