Desprezo ao capital intelectual
Por Fabio Berti, para Coletiva.net

Equilibrar a produção intelectual com a força de trabalho tem sido a receita mais eficiente para os países alcançarem o desenvolvimento socioeconômico e a consequente soberania nacional. Além, é claro, de figurarem em posições de protagonismo no cenário global. Historicamente, as civilizações que souberam construir novos conhecimentos, patenteá-los e aplicá-los na produção de soluções em diferentes áreas, geraram empregos qualificados, com maior remuneração aos trabalhadores, distribuição justa de renda e melhoria na qualidade de vida. O Brasil, ao que tudo indica, é um trem-bala... na contramão.
Os Estados Unidos e a Alemanha dos brilhantes institutos tecnológicos, a Inglaterra das universidades com amplos orçamentos, a França e o Japão das tecnópoles, a Irlanda e a Finlândia do investimento prioritário na educação em ciências e a China dos gigantescos parques tecnológicos. Todos foram exemplos para iniciativas que floresceram no Brasil, em especial no Rio Grande do Sul, no início desse novo século. Tendo como força motriz a interface entre academia, setor produtivo e Poder Público. Entretanto, há pelo menos meia década, verifica-se um recuo perigoso.
A necessidade de compartilhar uma reflexão surgiu ao visualizar, dia após dia, notícias de intervenções istrativas e drástica redução nos orçamentos das universidades públicas, em paralelo ao avanço desenfreado de grupos financeiros sobre a educação superior, fragilizando instituições seculares. Um fenômeno devastador, que defenestra professores e pesquisadores, mestres e doutores, com sólida carreira acadêmica e contribuição social inestimável.
Mas foi nessa semana que o grito me irrompeu a garganta e quer ecoar! Primeiro, uma das maiores referências na área de cientometria - avaliação da produtividade científica - do país decidiu trocar pesquisas altamente estratégicas por uma franquia na área de cosméticos. irável sob o ponto de vista do empreendedorismo, não fosse em razão do cancelamento abrupto e indecente do programa que custeava pesquisas e formação dos melhores recursos humanos na área. E, por fim, a doutora em comunicação que aceita trabalhos free-lancer pois, mesmo com duas décadas de intensa produção e formação de jovens talentos, foi mandada embora da instituição que fechou diversos cursos de graduação, sem receber sequer o fundo de garantia. Brasil, ainda dá tempo!
Fabio Berti é jornalista, professor universitário e doutor em Educação em Ciências pela Ufrgs.