Em 1956, com minha agência Minuano, aportei na Rádio Itaí, líder de audiência em vários horários graças ao profissionalismo social de Sérgio Zambiasi, Gildo Milman, Rui Alberto Vallandro e Floriano Peixoto. Recebi um telefonema do Instituto Santa Luzia, da freira Madre, que me convidou para em uma visita conhecer o Regional da Instituição, conduzido por um ex-colega no primário, em Santa Rosa, em 1940. Realmente isto aconteceu quando conheci o Nilson Capellari, assim que estourou a II Guerra Mundial. 6g334k
Capellari era deficiente visual, enxergava mais ou menos 10%. Uma irmã franciscana me escolheu para ser seu colega de classe e lesse todas as matérias, em virtude dele estar em processo de estimulação visual, a fim de evitar a cegueira total. Cheguei no Santa Luzia, na Zona Sul de Porto Alegre, e fui recebido por uma centena de ceguinhos.
A Madre Corália, minha professora no Ginásio Santa Rosa de Lima, tinha contatado com outra irmã franciscana num Congresso na capital gaúcha do Paixão Côrtes, e recomendado o meu nome como jornalista e comunicador. Idealizei um projeto que eu chamo de social, promovendo um show com a chamada 'Chá das Cruzadas', às quartas-feiras, das 16h às 18h, nas principais sociedades recreativas da cidade sorriso. A Itaí aceitou e orçou a transmissão.
Com a madre do Santa Luzia, fomos à Companhia Riograndense de Comunicações, que estava em processo de privatização junto à uma empresa espanhola. Depois, ao Café Marrocos, que também vendia inúmeros chás brasileiros. E por último, nos móveis de classe Artema do grupo da transportadora Mayer, cliente da Minuano.
Convenci o diretor-geral da Artema, alemão fugitivo da II Guerra, que os seus móveis de madeira de Gramado, todos entalhados, eram uma obra-de-arte, principalmente o Armário de Roupas, a sala de jantar e de reuniões. O velho sexagenário alemão pensou e respondeu que gostaria de patrocinar um programa. Respondi que não, por ser o orçamento por um mês no mínimo, e acrescentei que a Artema deveria montar os móveis na sociedade indicada na terça, das 18h às 22h, e retirá-los na quarta-feira, no mesmo horário.
Fechado o negócio, a Artema vendeu tanto, que teve que promover o curso para carpinteiros em Porto Alegre e Gramado, com cinco salários mínimos. Terminados os seis meses, o Regional do Santa Luzia ou a ajudar a Casa do Artista, presidida pelo radialista Cândido Norberto, amigo de Maurício Sirotsky Sobrinho, fundador da instituição. O meu coleguinha Capellari adotou mais uma profissão. Pasmem os senhores: fotógrafo de casamentos e de debutantes na natureza. Todos os sábados e domingos, no verão e na primavera, tinha muitos pedidos.
O Instituto Santa Luzia arrecadou tanto dinheiro que pode terminar mais um pavilhão para ensinar braile e música. Por esta atitude, a Câmara Municipal de Santa Rosa me concedeu o título de Cidadão Benemérito e a de Porto Alegre, Cidadão Emérito. E mais tarde, de Cidadão Gramadense, pela realização do Festival Mundial de Publicidade de Gramado. E tenho consciência que as obras ficam e a gente a. E na vida, não perdemos amigos, apenas a gente descobre quais são os verdadeiros!
João Firme é jornalista, publicitário, relações-públicas e advogado.