Àquelas que estão ao meu lado
Por Tauana Jeffman, para Coletiva.net, em especial de Diversidade e Comunicação

Eu não sei vocês, mas eu sofri muito com a Síndrome da Devedora. Isso mesmo, não só da impostora, mas da devedora também. Sempre achava que estava "devendo" alguma coisa, que era insuficiente. "Eu deveria ter feito aquele curso"; "deveria ter lido aquele livro"; "entreguei o projeto, mas poderia ser melhor"; "será que falei uma bobagem na reunião?", "como que eu não sabia dessa notícia que o colega comentou?". Respira, Tauana. Nós mulheres estamos sempre nos cobrando, porque precisamos provar mais do que os homens para que possamos ser ouvidas e consideradas.
Durante muito tempo eu fui a minha pior carrasca, confesso. Hoje eu ainda me cobro muito, mas melhorei significativamente. Hoje eu entendo que sou, vejam só, humana. Tenho falhas, tenho meus equívocos e obviamente não sei tudo. Mas se eu bobeio, se eu baixo a guarda, aquela sensação de "será que eu fiz certo, será que eu estou devendo?" aparece.
E na área da comunicação isso pode ser perigoso, pois é um lugar que sabe ser tóxico. Terão pessoas que irão sentir o cheiro do seu medo e vão se aproveitar disso para te massacrar, pessoas que percebem que você fraquejou e irão aproveitar esse momento para te empurrar mais para o chão e te usar como degrau. Eu já ei por isso algumas vezes.
Já voltei inúmeras vezes para casa chorando, de raiva, pelas coisas que aconteciam. Eu percebia que não tinha nem voz, nem vez. Quase nunca era ouvida e, dessa forma, não tinha capacidade alguma de mudar as coisas no trabalho. Mas quando era para cobrar resultados, a primeira a ser acusada de fracassada era eu. A única mulher do time. Nessa época a Síndrome da Devedora me consumiu. Eu trabalhava, trabalhava, trabalhava e nunca era suficiente. E quando cansava, estava sendo fraca. Lembro de ser acusada de ser sensível, de ser cheia de melindres. Cheguei a ouvir que a pessoa não ia "ficar pisando em ovos" quando conversava comigo, só porque eu me ofendia por qualquer motivo. A única coisa que eu queria era ser respeitada, era que a pessoa não fosse um babaca quando falasse comigo.
Infelizmente, algumas mulheres também podem ser machistas e podem te massacrar. Sofri muito na mão de uma pessoa que achava que eu era uma ameaça, por qualquer motivo. Era nítido a forma diferente que ela tratava homens e mulheres. Pior ainda quando era uma mulher feliz, como eu. A minha felicidade era uma afronta e essa felicidade tinha que acabar. Por isso, de novo, tudo era culpa minha, mesmo quando a tarefa tinha sido executada por um homem. Aqui, com muita conversa com a psicóloga, eu percebi que o trabalho estava me matando aos poucos. Eu precisava mudar aquela sucessão de massacres.
Felizmente, depois que eu me afastei dessas pessoas as coisas começaram a melhorar, e melhoraram muito quando entrei na empresa que estou atualmente. Logo que cheguei percebi que era um lugar mais saudável. Óbvio, com seus problemas (somos humanos, afinal), mas muito melhor, mais respeitoso e mais empático. Percebi isso de forma concreta em uma reunião pouco depois da minha chegada. Era uma agenda cheia de pessoas, com analistas, gerentes, diretores, etc. No meio da reunião, entrou na pauta uma demanda que eu estava executando, então levantei a mão para poder falar sobre. Antes que eu pudesse abrir o microfone, outro colega começou a falar e a explicar a tarefa que eu estava executando (e que ele não tinha colocado um dedo sequer). Prontamente, uma gerente abriu o microfone e falou "quem está executando essa tarefa é a Tauana, e ela está com a mão levantada". O colega começou a se desculpar e a dizer que também estava "envolvido". A gerente complementou dizendo que eu era a pessoa que poderia explicar a tarefa, e assim o fiz. Ali eu percebi que há lugares e lugares.
Hoje a minha coordenadora técnica é uma mulher, a minha gerente é uma mulher e a gerente da área que atuo em parceria também é uma mulher. São mulheres incríveis que sabem que a minha vitória é a vitória delas também. E as minhas colegas não ficam para trás. São de uma competência ímpar, dedicadas, comprometidas, profissionais que sabem o que estão fazendo e sabem atuar em conjunto com outras mulheres. Cada vez que escuto as histórias delas percebo que são pessoas diversas, com suas dores e suas alegrias. Cada mulher que está ao meu lado me ajuda a ser uma colega melhor, uma amiga melhor, uma mulher melhor. Porque eu quero fazer jus a esse time, eu sou fã delas e elas me inspiram a crescer e a evoluir.
Por isso, aproveito esse espaço para dizer a todas as mulheres que convivem comigo: eu serei aquela que, se eu não puder te ajudar a crescer, estarei nas arquibancadas vibrando e torcendo pela vitória de vocês; porque quando uma vence, todas vencem. Aí você pode até me perguntar: "mas no teu trabalho não tem homens, Tauana?" Até tem, e os homens são legais. Mas as mulheres, ah, as mulheres são fenomenais.
Tauana Jeffman é publicitária, analista de Processos de Relacionamento Sênior - CRO no Sebrae RS, consultora e estrategista em Marketing Digital.