Fim do PPGCC da Unisinos: alunos e instituição divergem sobre processo
Depois da visita da Capes, Coletiva.net conversou com estudantes e recebeu respostas da universidade

Há cerca de duas semanas, a Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos) recebeu integrantes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O objetivo da visita foi dar continuidade ao acompanhamento do processo de desativação dos 12 cursos de pós-graduação, entre eles o de Ciências da Comunicação (PPGCC), anunciado em julho de 2022. Ouvidos por Coletiva.net, representantes dos alunos manifestaram descontentamento e prejuízo no ensino. Já a instituição, por meio de nota, disse que o encerramento está ocorrendo "de forma gradual e responsável, com transparência e respeito a todos os envolvidos".
Os acadêmicos, que participaram da visitação, explicaram que a ação ocorreu em dois momentos e os debates foram sobre as condições com que o fechamento tem ocorrido e a forma como tem afetado quem está cursando. Em 15 de junho, ocorreu uma reunião com os 15 integrantes da Capes e com os discentes de todos os PPGs descontinuados. Já no dia seguinte, os alunos conversaram com o coordenador da respectiva área do órgão federal. Tiago Segabinazzi, doutorando e mestre em Ciências da Comunicação, afirmou que os representantes ficaram perplexos com a situação. "Primeiro porque nunca houve um pedido como este, de tantos PPGs fechados ao mesmo tempo, muito menos o fechamento de PPGs de excelência, como é o caso da maioria deles".
Sobre o processo
Questionada a respeito disso, a universidade afirma que, com o intuito de manter a excelência do ensino e a perenidade da instituição, instalou, no ano ado, um planejamento estratégico. A descontinuidade de alguns cursos foi a forma encontrada para assegurar a qualidade em todas as áreas de conhecimento e o equilíbrio financeiro. "Todo o processo foi feito com a ciência e orientação da Capes, por meio da plataforma Sucupira, sobre como comunicar a decisão tomada pela Universidade e a lista de disciplinas e orientações em andamento até a desativação completa dos Programas".
Para os alunos, no entanto, o fato vem ocorrendo sem transparência. Inclusive, foi relatado à reportagem que o anúncio não foi feito diretamente a eles, por meio de comunicado oficial, mas, sim, por boatos nas mídias sociais . "O processo se mantém como iniciou: arbitrário, unilateral, autoritário e sem diálogo", afirmou uma mestranda em Ciências da Comunicação, que prefere não ser identificada.
De acordo com Tiago, a instituição não comprovou a justificativa financeira aplicada para o fechamento das capacitações, nem mostrou alternativas para evitar que o encerramento fosse necessário. Ainda, o doutorando disse que há insegurança com o futuro, pois a Universidade não apresenta planos, nem metas para mitigar prejuízos materiais e psicológicos. Após as primeiras cobranças, a Unisinos prometeu aos Representantes Discentes dos PPGs afetados maior clareza, o que não ocorreu. "Nossa avaliação é que as poucas reuniões que aconteceram serviram apenas como burocracia a cumprir ou como fachada para aparentar haver diálogo institucional", relatou.
Prejuízos
Os estudantes também rebatem a afirmativa da entidade de não haver prejuízos aos alunos. Um desses danos é a perda de orientadores, com a demissão de alguns professores. A reportagem do portal apurou que na Comunicação um docente foi demitido e outra pediu afastamento.
Além disso, muitos discentes enfrentam danos à saúde mental, como mostra uma pesquisa realizada entre os integrantes dos 12 programas. Entre as respostas, grande parte dos estudantes indicou perda acadêmica, preocupação com a finalização do curso, dificuldade em se adaptar com novos orientadores e desorganização nos auxílios dispostos pelas secretarias.
Porém, de acordo com a Unisinos, a previsão é de que o último aluno matriculado conclua o estudo em fevereiro de 2027. "Até lá, todas as disciplinas serão mantidas, bem como as atividades extracurriculares exigidas para a conclusão dos cursos", registra a nota.
Laboratórios
Tiago afirmou que o PPGCC foi "expulso do prédio que ocupava, onde há um laboratório que foi conseguido com recursos públicos devido à sua excelência em pesquisa, para alugar o espaço para a iniciativa privada". Com relação a esse ponto, a instituição explicou que, em busca de fontes de recursos para diminuir os impactos da crise que assola a educação no País e, especificamente, as universidades particulares sem fins lucrativos, a Unisinos tem otimizado espaços.
Por isso, transferiu de prédio tanto o Programa de Pós-Graduação em Comunicação quanto o de Linguística Aplicada. A entidade destaca que há dois laboratórios, adquiridos com recursos públicos, que são utilizados respectivamente pelos programas: o Laboratório Avançado de Tecnologias da Informação e Comunicação (Labitcs) e o Núcleo de Estudos Avançados em Linguagem, Interação e Tecnologias (Nealit). "O Nealit foi transferido para o prédio B, juntamente com os dois programas referidos acima, e o Labitics permaneceu no prédio, no espaço Érico Veríssimo", explicou a universidade ao garantir que os locais seguem de uso acadêmico. "Todos os alunos e professores que tiverem interesse seguem com espaço garantido para realizar as atividades".
Confira a nota da Unisinos na íntegra:
Nos dias 15 e 16 de junho, a Unisinos recebeu a visita da Capes, composta por coordenadores de áreas, corpo técnico e diretoria de avaliação. Nas reuniões realizadas com a reitoria, a Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação, além dos professores, dos mestrandos e dos doutorandos dos Programas de Pós-Graduação em processo de desativação, a Capes fez escutas para melhor compreender a experiência e orientar o processo em curso.
Foram dois dias de intenso trabalho e de reflexões sobre a situação de crise instalada nas universidades brasileiras, particularmente, nas universidades privadas sem fins lucrativos, como é o caso das universidades comunitárias. A Unisinos espera contribuir com o Ministério da Educação para retomar o caminho de desenvolvimento e de aproximação às necessidades da região. Inclusive, busca construir a oportunidade de uma visita do ministro Camilo Santana (Educação) à Instituição.
Assim como outras universidades comunitárias do Brasil, a Unisinos vive um momento de grandes desafios devido à falta de investimentos em políticas educacionais e de um projeto educacional claro, cenário agravado nos últimos anos. Para manter a excelência do ensino e a perenidade da instituição, a Unisinos colocou em curso, no ano ado, um planejamento estratégico, com foco na garantia da qualidade pela qual já é reconhecida. A forma encontrada
para assegurar a excelência em todas as áreas de conhecimento e o equilíbrio financeiro foi optar pela descontinuidade de alguns PPGs. Todo o processo foi feito com a ciência e orientação da Capes, por meio da plataforma Sucupira, sobre como comunicar a decisão tomada pela Universidade e a lista de disciplinas e orientações em andamento até a desativação completa dos Programas.
A desativação dos PPGs está acontecendo de forma gradual e responsável, com transparência e respeito a todos os envolvidos - e, também, com acompanhamento da Capes. A previsão é de que o último aluno matriculado conclua o curso em fevereiro de 2027. Até lá, todas as disciplinas serão mantidas, bem como as atividades extracurriculares exigidas para a conclusão dos cursos. Mesmo com a redução, a Unisinos ainda tem um dos maiores portfólios de pós-graduação das universidades privadas brasileiras, com 14 programas.
Buscando fontes de recursos para diminuir os impactos da crise que assola a educação no país e, especificamente, as universidades particulares sem fins lucrativos, a Unisinos tem otimizado espaços da Universidade. Assim, transferindo de prédio tanto o Programa de Pós-Graduação em Comunicação quanto o Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada. Adquiridos com recursos públicos, há dois laboratórios mobilizados por tais programas: o Nealit e o Labitcs. O Nealit foi transferido para o prédio B juntamente com os dois programas referidos acima, e o Labitics permaneceu no prédio, no espaço Érico Veríssimo. Os laboratórios continuam sendo de uso acadêmico da Universidade. Todos os alunos e professores que tiverem interesse seguem com espaço garantido para realizar as atividades.